Clique no título para ler a crônica de Braz Chediak. Tinha dois amores na vida: a mulher e o canário. No emprego, comentava com os amigos: – Ganhei na loteria, Marly é a melhormulher do mundo! Aos domingos, quando ia tomar uma cerveja no bar da esquina, levava o canário, cabecinha de fogo virado na gaiola, que cantava na mão. – Este eu não vendo por dinheiro nenhum! Não troco por nada. E em seus momentos de reflexão concluía: “Deus foi bom comigo. Não fosse o gato da Marly…” Marly tinha dois amores na vida: o marido e o gato. Com as amigas,comentava: Meu marido me trata a pão-de-ló. Faz tudo o que eu quero. Eu adoro ele! Quando estas mesmas amigas iam visitá-la ela exibia seu gato com orgulho. O bichano, um siamês legítimo, roçava suas pernas, espreguiçava-se em seu colo. E em seus momento de reflexões, pensava: “Sou a mulher mais feliz do mundo. Não fosse o canário do Flávio…” E a vida corria solta, alegre, o casal numa lua-de-mel que causava inveja àcidade. Casados há cinco anos, andavam de mãos dadas, nunca tiveram uma briga, nem uma cara amarrada.Até que um dia aconteceu o inevitável: o gato, aproveitando um descuido docasal que, cansado de uma noite carnavalesca, esqueceu a porta da dispensa aberta, devorou o canário. Quando levantaram de manhã, o bichano ainda tinha a boca vermelha de sangue.Flávio deu um grito, correu para a gaiola e encontrou-a quebrada, penas portodos os lados. Voltou para a sala e, com fúria, chutou o gato, jogou-lhe cadeiras, copos, etc. A mulher, assustada com a transformação do marido,encolheu-se, com medo. O gato, apavorado, pulou a janela da rua: ouviu-se apenas um ranger de pneus, um miado longo e final. A mulher, atônita, desesperada, começou a gritar: – Assassino! Assassino! Assassino! E o marido: – Desgraçada! Desgraçada! A briga continuou por algum tempo, até que cada um foi para seu lado. Pela primeira vez dormiram em quarto separados. A relação acabou. Os amigos de Flávio comentavam aos cochichos: – Alguma coisa há! A Marly com aquela carinha de anjo… Boi sonso é que arromba o curral! As amigas de Marly comentavam: Vai ver o safado arrumou outra! Confiar em homem, minha filha… O certo é que ambos se tornaram tristes, ranzinzas, vivendo sob o mesmo teto sem trocar palavra, rolando na cama com saudades dos dengos, dos chamegos, dos carinhos. E na véspera do aniversário de casamento, um sofrimento profundo se apoderoudos dois. Ele desabafou com os amigos. Ela desabafou com as amigas. Acabar com o casamento por causa de um canário, de um gato? Ele jurou para si mesmo nunca mais ter passarinhos. Ela jurou para si mesmanunca mais ter gatos. E ambos tomaram a mesma decisão: “vou me reconciliar!” No dia seguinte ele deixou o trabalho para comprar um presente para amulher, faria uma surpresa. Ela saiu de casa para comprar um presente para o marido, queriasurpreendê-lo. À noite, quando ele chegou, ela escutou o barulho das chaves e saiu doquarto com seu presente nas mãos. Ele entrou. Ambos pararam, um em frente ao outro. Ela com uma gaiola novinha, com um canário cabecinha de fogo, ele comum gato siamês legítimo nos braços. O pássaro começou a se debater na gaiola, com medo. O gato olhou o canário,com ódio. Lá fora tocava, em ritmo de bolero, “é tão sublime o amor”.
O Braz nos conforta com suas palavras que parecem caber na vida de todo mundo. Mas existe alguém que talvez nunca l(eu) ou entendeu uma boa crônica ou uma boa história. Talvez para o (eu) aí de cima, as conversas e brosas ruins abreviadas e sem nexo da internet seja mais interessante. Se não consegue enxergar ou não consegue ler o que é pra ler, pule o artigo.
Amei!
Os comentários dos vizinhos e amigos citados no texto fazem lembrar alguns postados aqui no blog. Como é fácil opinar, julgar(quase sempre negativamente e sem conhecimento de causa quando pouco ou nada nos atinge ou diz respeito). Mas com relação ao amor… Só quem o conhece ou conheceu saberá do que o Braz está falando. Dentre os muitos aspectos, da capacidade e necessidade de ceder para ganhar.
falta de noticia heim