Alerta: oxi já chegou a Varginha

A chegada da droga mais devastadora que se conhece preocupa ainda mais pais e pessoas ligadas ao controle do abuso de drogas, na cidade. Nem a polícia registrou apreensão de oxi, mistura de crack com querosene e outras substâncias tóxicas. A Folha de Varginha colheu depoimento de garoto que viciou em crack aos 12 anos de idade. Hoje, aos 16 anos, ele fala dos quatro anos em que chegou a consumir mais de 100 pedras por dia. E conta que o oxi já é consumido em larga escala no bairro de Fátima, Vila Mendes e Padre Vítor. A pedra de oxi custa 3 reais, contra 10 reais do crack. Clique abaixo para ler mais.

Se você vir Júnior (nome fictício), muito provavelmente vai confundi-lo com um jogador de futebol. Aos 16 anos, estatura média e porte atlético, é um rapaz que, assim como outros jovens de sua idade, não para quieto. Brinca com tampinhas no chão, pula buracos. Nem parece que acaba de sair de um período de 4 anos consumindo crack todos os dias.

Júnior morava na Vila Mendes, em Varginha. Conheceu a droga aos 12 anos, através da irmã, que hoje está no presídio da cidade. Começou a vender crack a pedido da irmã. Recebia 50 gramas da droga, pelos quais deveria pagar R$ 1.200,00. O combinado era ficar com o que sobrasse do dinheiro. “Mas eu fumava tudo”, lembra. Júnior chegou a fumar mais de 100 pedras – todos os dias. “Uma vez fiquei uma semana sem dormir, beber água ou comer. Comia só um pedaço de salgado, ou um pedaço de pão. E só”. Para manter o vício vendeu as próprias roupas, se prostituiu e praticou pequenos furtos. Quando se sentiu no fundo do poço, pediu a um amigo que o levasse a um local de recuperação. “Em vez de ir, arrumei dinheiro e invernei mais uma noite”, lembra. No dia seguinte o amigo buscou Júnior e o levou para a Associação Cristã Betesda, que recupera dependentes.

Júnior acaba de completar cinco meses “limpo” (sem consumir drogas). Hoje ele é o padeiro da Betesda, onde moram atualmente 36 dependentes químicos. Aprendeu a fazer pão no Moinho Sul Mineiro, onde fez um curso, levado por Nivaldo. Prepara o pão às 20h e deixa descansar. “Ele acorda às 4h, já falamos que não precisa, mas ele insiste, porque o pão fica melhor”, diz Nivaldo Odoni, presidente da Betesda. Entre 4h e 6h ele faz o pão e o café. Depois participa do culto, com os demais internos. Júnior diz que nunca pensou em que profissão seguir. Mas fica animado quando fala sobre a tarefa e pensa até em seguir carreira.

Hoje ele não sabe se quer sair da comunidade. Os pais de Júnior bebem e o tráfico na vizinhança é pesado. Nivaldo diz que é comum o dependente ficar sem referência. “Quando chega aqui, o viciado está descaracterizado, tanto física quanto psicologicamente. Rouba para conseguir a droga, não toma banho, não bebe água”. Nivaldo conta de um paciente, com formação superior, que ficou sete meses nas ruas em São Paulo. Outro, jogador da Portuguesa, também caiu na droga. “O Júnior está ‘limpo’, parou de fumar cigarro e trabalha. Queremos colocá-lo na escola e conseguir para ele uma vida melhor”.

Contatos da Betesda: (35) 8838-8368 / 8882-2518 / 3221-2384.