Janilton Gabriel de Souza*
Quando comecei a escrever essa coluna, lembro-me de que um dos temas que gostaria de aqui refletir era a questão da morte, mais especificamente o luto. O acidente acontecido em Santa Maria, que dizimou mais de duzentas vidas de jovens em média de idade de 23 anos, nos faz colocar uma questão que talvez todos a façam em sua mente: como ficam as mães, pais e parentes das vítimas? Clique no título para ler mais.Esse episódio, de repercussão nacional e até internacional, assusta pela sua dimensão. Porém, diariamente perdemos pessoas que nos foram importantes. Quando assistia ao telejornal, achei interessante o comentário da jornalista Sandra Annenberg: “Estive no lugar. Havia um ruído de silêncio. As pessoas não diziam nenhuma palavra sequer”. Essa ausência de palavras dá mostras do que Lacan, importante psicanalista, teoriza como Real, este que não é simbolizado por palavras. Realmente, diante da morte, não temos mesmo o que dizer. Inventamos algumas tentativas (frustradas) de expressar nossos sentimentos para aquela situação. Sabemos disso, pois percebemos que o que é dito não dá conta de amenizar a morte de um ente querido, de um amigo, por exemplo.
Quanto à elaboração da perda, Freud, em seu texto Totem e Tabu, descreve que: “O luto tem uma missão psíquica muito específica a efetuar; sua função é desligar dos mortos as lembranças e as esperanças dos sobreviventes”. Em outro trabalho, Luto e Melancolia, deixa claro que é só com o passar do tempo que a dor do luto pode diminuir e ele por sua vez pode se concluir. É interessante que, passadas algumas semanas, a imprensa já quase se esqueceu do assunto, mas àqueles que perderam as pessoas as quais foram fruto de investimento emocional, o evento terá uma incidência maior que algumas notas de jornais. A mãe, que perdeu o filho, lembrará de toda a história que vivenciou a seu lado, sendo essas lembranças contrastadas aos poucos com o teste de realidade: sua ausência definitiva. Para essa mãe e para todos aqueles que tinham uma história afetiva com algum desses jovens, o luto será mais longo e estes atravessarão momentos de muita dor. Daqui a um ano, a única recordação que teremos será aquela do breve noticiário “Hoje, parentes e amigos das vítimas se reuniram para recordar um ano da morte dos jovens de Santa Maria”. Na memória dos parentes, estará a dor da perda e o processo dolorido que atravessaram de luto, o qual estará, talvez, um pouco mais aliviado, pois se sabe que mortes por acidentes como esse de Santa Maria tornam o trabalho de luto bem mais longo e difícil, sendo necessário, às vezes, que o sujeito seja assistido em seu luto e consiga, apesar da dificuldade, seguir em seu trabalho de elaboração. O luto, assim como muitos de nossos mal-estares, não constitui uma patologia, mas faz parte do pacote que chamamos de vida. Em outras palavras, como canta Chico Buarque, “O que não tem remédio, nem nunca terá”!
*Psicólogo clínico atuante a partir da psicanálise, educador e pesquisador da UFSJ. Colaborador do Jornal Folha de Varginha e Blog do Madeira.
É doutor…Falando como pai, é complicado. Por mais que saibamos que somente Deus controla o dom da vida, é dificil de aceitar perder um filho. A gente vê nascer, ouve o primeiro choro, a primeira vacina, carregamos no colo, vemos e sofremos pelo primeiro dia de aula, meu filhinho querido tendo que encarar o mundo, a gente sente na pele toda insegura do mundo violento que vivemos, sofremos em pensar: o que será de meu filho no futuro? Aí, um belo dia, numa madrugada ruidosamente silenciosa uma noticia dessas…É dificil, doutor! Não tem psicologia, psicanalise, remédio, nada que tire a dor do coração de um pai, por mais que vcs estudem, tentem entender, se empenhem em amenisar essa dor, jamais vão conseguir…
Bom… Eu li e reli o texto em que você Janilton escreve achei interessante e alguns pontos que colocou até mesmo importante para reflexão,mas vejamos,você em seu texto diz que “quando estamos em luto não temos mais o que dizer,inventamos tentativas em vão para expressar nosso sentimentos.”Concordo em certa parte,mas vejamos em um momento fúnebre,quantas vezes as dores são amenizadas por cantos,entoações religiosas,em que a pessoa expressa sim seu sentimento e com isso a dor em instantes é amenizada..
Participei de lutos em que a família se reuniu e sem o que dizer começou a cantar… e com a canção conseguiram dizer ou expressar-se de forma que aquele momento de luto já não se tornou tão triste e sim um momento de sofrimento em que deixou as pessoas mais fortes…